terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Vi....

Vi os olhos da lua numa noite sem lua; e


os dedos do sol num dia sem sol. Vi o seu

desenho inscrito nas nuvens do crepúsculo:

o rosto cego da lua, os braços apagados do

sol. Levei os dedos do sol aos olhos da lua,

e abri-os: num movimento de pálpebras,

o dia fez-se noite. E adivinhei a cor dos

teus olhos de lua com os meus dedos de sol.



Esperei por ti na confluência das nuvens

do poente. Vi-as descerem até ao mar com

seus ventres carregados de água; e vi o

dorso do mar subir até elas numa rebentação

de maré cheia. Ouvi o mar e o céu juntarem-se

num gemido de amor; e tapei os ouvidos ao

grito do orgasmo celeste, com o sangue da tarde.



Enganei-me nos caminhos que me levavam

ao céu; troquei as voltas que me traziam

ao mar. Sentei-me contigo na terra da noite,

sem lua nem sol; e o teu rosto de pálpebras

fechadas trouxe-me o sol, para que te abrisse

os olhos com os seus dedos de fogo. Entrei

no seu doce subterrâneo, longe da lua e do sol.



A tarde demorou-me nos teus braços,

até essa noite que encheu de sol os meus

dedos, e de luar os teus olhos.



Nuno Júdice

Bate-me...Bato-te...

                                            



Bate-me. Não quero, não posso. Peço-te que me batas com os olhos e me flageles com a boca. És doido não digas inconsequências. Tortura-me com as palavras do coração, castiga-me com a dureza dos actos que não são, mas peço-te... toma-me para ti, guarda-me e acolhe-me em teu regaço. Não quero, não posso. Peço-te que não mintas em palavras o que a tua alma te diz, não negues a vontade e o desejo; bate-me com a pele...manda o medo para um lado melhor que a tua casa. Não me entendes....não vês? Sabes que te vejo, que te sinto e pressinto os passos e os gestos e os olhares, não digas o contrário do que acreditas. Por isso peço-te: bate-me com os teus cabelos, faz-me perder nos desertos do teu corpo todo. É melhor não estar...é melhor eu ir....Não caminhes por onde os teus passos negam em caminhar...estou aqui agora, hoje , neste momento....Não me julgues...sabes que te quero, mas não assim. De que falas, de que foges? Estou hoje aqui, todo, inteiro, único, porque me pedes a eternidade? O sempre é o agora, pois quem te contou o destinos das vidas? É por isso, tu sabes...é-me difícil ter-te de forma simples. Quero-te mas tu assustas-me, não te posso ter....nunca soube o que é perder...Não me esgotes, peço-te...só quero que me batas com os pés de veludo dos amantes escondidos.




Bato-te com os beijos de polvo...consumo-te e castigo-te com o calor dos dias quentes, faço-te perder com as unhas da fera que me fazes ser...mato-te com as palavras secretas que não escreverei....



Sebastião Campos

Se não fosse amor....

Se não fosse amor, não haveria desejo, nem ciúmes, nem o medo da solidão...Se não fosse amor não haveria saudade, nem o meu pensamento o tempo todo em você.


Se não fosse amor eu já teria desistido...
 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

un homme...

C'est un homme qui a des habitudes, je pense à lui tout d'un coup, il doit venir relativement souvent dans cette chambre, c'est un homme qui doit faire beaucoup l'amour, c'est un homme qui a peur, il doit faire beaucoup l'amour contre la peur. Je lui ai dit que j'aime l'idée qu'il ait beaucoup de femmes, celle d'être parmi ces femmes, confondue. On se regarde. Il comprend ce que je viens de dire. Le regard altéré tout à coup, faux, pris dans le mal, la mort.




Marguerite Duras, L'Amant
 
 
 

Como te amo?!...


Como te amo? Deixa-me contar os modos.


Amo-te ao mais fundo, amplo e alto

Minh'alma pode alcançar, além dos limites visíveis

E fins do Ser e da Graça ideal.



Amo-te até ao nível das mais diárias

E ínfimas necessidades, à luz do sol e das velas.

Amo-te com liberdade, como os homens buscam por Justiça;

Amo-te com pureza, como voltam das Preces.



Amo-te com a paixão posta em uso

Nas minhas velhas mágoas e com a fé da minha infância.

Amo-te com um amor que me parecia perdido



Com meus Santos perdidos - amo-te com o fôlego,

Sorrisos, lágrimas, de toda a minha vida! - e, se Deus quiser,

Amar-te-ei melhor depois da morte.





Elizabeth Barrett Browning
 

... :)



Lembra-te que há um querer doloroso

E de fastio a que chamam de amor.

E outro de tulipas e de espelhos

Licencioso, indigno, a que chamam desejo.

Não caminhar um descaminho, um arrastar-se

Em direção aos ventos, aos açoites

E um único extraordinário turbilhão.

Porque me queres sempre nos espelhos

Naquele descaminhar, no pó dos impossíveis

Se só me quero viva nas tuas veias?



Hilda Hilst

O que vale

"... o tempo não importa.

Se for um minuto, uma hora, uma vida.

O que importa, é o que ficou deste minuto,

desta hora... desta vida..."





(Mário Quintana)
 
 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sedução da espera....

Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém.

Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles

A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar

Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.

Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.

Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder

Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num

Objecto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar

Num livro uma página estrategicamente aberta.

Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza

Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra

Que te quer. Soprá-la para dentro de ti

até que a dor alegre recomece.



Maria Gabriela Llansol
 
 

Oração de Clara ao seu jardim:

«Meu espírito clama pelos poderes cicatrizantes

Do amor. Neles penso, enquanto escurece ou

Chove torrencialmente na ravina obscura que

Atravesso. Vi levantar-se a ilusão da alegria

Perene como dádiva. Que dardo cravas em mim,

Que assim entenebreço, que nervuras tão densas

Me crias, se em ti me perco?»



Maria Gabriela Llansol, O Começo de um Livro é Precioso
 

Dois amantes felizes não têm fim nem morte, nascem e morrem tanta vez enquanto vivem, são eternos como é a natureza. ( Pablo Neruda)

Se quer ser feliz, não espere que a tempestade passe; aprenda a dançar à chuva!

Reúne-te comigo...

"... o teu silêncio é a minha voz mais funda,     
O teu querer, a minha esperança  intensa,
E a solidão que de alma a alma aumenta
O anseio do encontro antigo,
É a inarmonia...
Reúne-te comigo no meu chamamento,
Reúne-te comigo ao que nos demora,
E levemos connosco o fim desta espera"

Ana Hatherly

Toco a tua boca....

...Com um dedo, toco a borda da tua boca, desenhando-a como se saísse da minha mão, como se a tua boca se entreabrisse pela primeira vez, e basta-me fechar os olhos para tudo desfazer e começar de novo, faço nascer outra vez a boca que desejo, a boca que a minha mão define e desenha na tua cara, uma boca escolhida entre todas as bocas, escolhida por mim com soberana liberdade para desenhá-la com a minha mão na tua cara e que, por um acaso que não procuro compreender, coincide exactamente com a tua boca, que sorri por baixo da que a minha mão te desenha.




Olhas-me, de perto me olhas, cada vez mais de perto, e então brincamos aos ciclopes, olhando-nos cada vez mais de perto. Os olhos agigantam-se, aproximam-se entre si, sobrepõem-se, e os ciclopes olham-se, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam sem vontade, mordendo-se com os lábios, quase não apoiando a língua nos dentes, brincando nos seus espaços onde um ar pesado vai e vem com um perfume velho e um silêncio. Então as minhas mãos tentam fundir-se no teu cabelo, acariciar lentamente as profundezas do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de uma fragrância obscura. E se nos mordemos a dor é doce, e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo do fôlego, essa morte instantânea é bela. E há apenas uma saliva e apenas um sabor a fruta madura, e eu sinto-te tremer em mim como a lua na água.







Julio Cortazar, O Jogo do Mundo

Digo-te:

                                               

- Sim – digo-te, pousando as mãos nos teus joelhos: - Desejo encontrar alguém que


me ame com bondade, e saiba ler.

-Alguém que queira ressuscitar para ti?

- Sim, alguém que tenha para comigo essa memória.

Alguém que deixe espaços entre as palavras para evitar que a última se agarre à

próxima que vou escrever

Alguém que admita que a cartografia dos animais e da pontuação não está ainda

estabelecida

Alguém que eu possa ler diferentemente depois de me ler

Alguém que dirá aos animais e às plantas que nem sempre serão servos

Alguém que ao nos amarmos se reconheça de matéria estelar



Maria Gabriela Llansol, O jogo da liberdade da alma
 
 

"Eu tentei ser fria, mas você é tão quente que eu derreti.”

Foge!



ELA- Se fores realmente inteligente, afasta-te de mim, porque se não vou beijar-te!!


ELE- Então faz de conta que não sou inteligente e BEIJA-ME! ....
 
 
:))))

Tem dias....

Tem dias em que vamos ao céu... tem dias em que não acreditamos no paraíso...


B
 
 
(12/02/2010)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

:)

"Fazia tempo que alguém não ficava tão calado enquanto eu apenas existo... fazia tempo que alguém não ficava tão perdido só porque me encontrou. "

Tati Bernardi


...




"(...)Deixei os olhos para o final, sabendo que, quando olhasse para dentro deles, talvez perdesse o fio do pensamento. Eles eram grandes, calorosos como ouro líquido, emoldurados por uma franja grossa de cílios escuros. Olhar teus olhos sempre fez com que me sentisse extraordinária...ficava um pouco tonta, mas isso devia ser porque me esquecia de respirar... De novo."

(Stephenie Meyer)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Poderia ser assim..

Por ti...
Para ti...
Em ti...
Todos os meu beijos....




Poderia...

(B)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Despe-me...

Despe-me para te vestires...

para te vestires de arrepios

para te vestires de calor

para te vestires de sorrisos

para te vestires de liberdade

para te vestires de tempo

para te vestires de paixão

Despe-me para te vestires de mim...

(B.)


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

:)

"No alvo leito lugar sagrado


Templo, quarto fechado

Nua ela se mostrava

Nua ela se descobria

A nudez era castidade

A nudez era verdade

A nudez era límpida

Livre e sem pudor.

E ante o corpo ajoelhado

Tocando-a com suavidade

Olhando-a sem pecado

Ele exaltava dela o corpo

E cantava dele o amor:

- Beijo teus pés porque para mim te encaminham

Beijo tuas pernas porque te trazem

Beijo tuas coxas porque me prendem

Beijo teus braços porque me abraçam

Beijo teu ventre porque nele meu leito

Beijo teu peito porque nele me guardas

Beijo em teus seios a forma desperta

De teus mamilos na minha mão

Beijo tua boca porque respira

E porque respira existes

E porque respira existo

E porque respira és

E na tua língua beijo a tua língua

E nela enrolo e cruzo a minha

Para que só as minhas palavras fiquem

Na tua boca na tua língua

E nenhuma mais profiras

Senão as que te dou

Beijo teus olhos porque neles a luz

Porque neles meu brilho

Porque neles meu todo

Porque neles meu querer

Porque neles minha cruz."

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